sábado, 9 de abril de 2016




Hoje só fotografei árvores, 
Dez, cem, mil. 
Vou revelá-las à noite. 
Quando a alma for câmara escura. 
Depois vou classificá-las: 
Segundo as folhas, os anéis dos troncos, 
Segundo as suas sombras. 
Ah, como as árvores 
Entram facilmente umas nas outras! 
Vejam, agora só me resta uma. 
É esta que vou fotografar outra vez 
E vou observar com assombro 
Que se parece comigo.
 Ontem só fotografei pedras. 
E a pedra afinal 
Parecia-se comigo. 
Anteontem — cadeiras — 
E a que resultou 
Parecia-se comigo. 

Todas as coisas se parecem terrivelmente 
Comigo 

 Tenho medo. 






 Marin Sorescu