segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

e o amor parado




Tu eras a pessoa mais antiga que eu jamais conheci.
 Eras a monotonia de meu amor eterno, e eu não sabia.
 Eu tinha por ti o tédio que sinto nos feriados
 O que era? era como a água escorrendo numa fonte de pedra, 
e os anos demarcados na lisura da pedra, 
o musgo entreaberto pelo fio d’água correndo, 
e a nuvem no alto, e o homem amado repousando,
 e o amor parado, era feriado, e o silêncio no voo dos mosquitos. 
E o presente disponível. E minha libertação lentamente entediada,
 a fartura, a fartura do corpo que não pede e não precisa. 








 Clarice Lispector