quarta-feira, 12 de abril de 2017

adiante




No quarto, nem sequer de hóspedes, no quarto 
escuro das arrumações, fui dar com a minha
 vida, e em que lindo estado. No meio de uma
inqualificável tralha, lá estava ela, ao fundo,
 a minha vida, «encore bien que je te trouve!», 
inqualificável tralha, lá estava ela, ao fundo,tão anémica 
que metia dó. Que situação tão constrangedora, 
pensei, sem lho dar a entender. Que posso
 eu fazer por ti que seja não fugir depressa 
daqui ou enfiar-me logo pelo chão abaixo?
 E tu, minha vida, vá, deixa-te ficar, «tant mal 
que bien», e olha que o quarto também não é tão 
mau assim. E desacompanhada não ficas nunca 
(seria aliás difícil, com toda a tralha em volta...) 
e olha que nestas coisas é como no demais, é como
 em certos casamentos: NÃO DEU NÃO DEU, adiante. 






 Rui Caeiro