quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

é a minha vez




Estou aqui, 
 agitando os baldes que a chuva 
 encheu durante a madrugada
 para evitar que o silêncio faça mais vítimas. 
 Fui colocar essa peruca de pardais e vim
 a voar até aqui acima, 
 e agora não sei como inventar as escadas para descer. 
 Dizes que é apenas uma questão de tempo,
 que só foste renovar o contrato para não ficares assim com
 o pé no vazio. 

 Já nem reparas, 
 mas estou aqui como um animal pré-histórico 
 a ficar enternecido com a bailarina
 da tua caixa musical.
 Aguardo, ainda, como qualquer vulcão lunar
 o fim da era glaciar. 

 Passo a mão pelos cabelos molhados,
 chove,
 outra vez.
 Há ecos de corpos rasgados 
na gargalhada dos palhaços
 e as hienas começam a ficar impacientes: 
 é tarde mas sobretudo urgente.

 Deixa-me pôr esse vestido 
 com corte jovem demais para o meu corpo em queda.
 É a minha vez. 
 Sei o papel de cor. 
 Mas não chego para uma história. 







 Golgona Anghel

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